segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A língua girava no céu da boca


A língua girava no céu da boca.

Girava!

Eram duas bocas, no céu único.

O sexo desprendera-se de sua fundação,

errante imprimia-nos seus traços de cobre.

Eu, ela, elaeu.

Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.

A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.

Consumia-nos em piscina de aniquilamento.

Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino,

vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.

A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo,

se restituíram à consciência.

O sexo reintegrou-se.

A vida repontou: a vida menor.


(Extraído do livro "O amor natural", Editora Record – RJ, 1992, pág. 29.)

2 comentários:

  1. Sabe, ainda esta semana estava discutindo a dificuldade de se encontrar textos escritos por homens que descrevessem o "orgasmo" masculino. O verdadeiro, não o puramente fisiológico, ou animal, ou banal, destes que se lê em artigos cientificos, de literatura erótica e coisa e tal.
    Começava a achar que "nenhum homem" por mais poético que fosse, se encontava em situação de ser capaz de transcerder a si mesmo. Então, você publica um texto onde o Drummond descreve um orgasmo que começa na boca e termina na "vida menor". Neruda que me perdoe, mas poetas como Drummond são essencais...rsrs. Restituiu-me a esperança...rsrs

    Adorei encontrar este texto aqui.

    Beijos, M.I.E.M.A!!

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  2. Concordando com a minha alma aí em cima!
    Falar de amor não é fácil, não como pensam.
    Precisa-se de uma alma sensível, disposta a mergulhar e depois se expor!
    Amar de corpos e mentes é algo que consome... mas é explosão de gozo em palavras cheias de significado pra quem lê e pra quem sente!
    Beijocas, minha gafa!

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