A língua girava no céu da boca.
Girava!
Eram duas bocas, no céu único.
O sexo desprendera-se de sua fundação,
errante imprimia-nos seus traços de cobre.
Eu, ela, elaeu.
Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.
A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.
Consumia-nos em piscina de aniquilamento.
Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino,
vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.
A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo,
se restituíram à consciência.
O sexo reintegrou-se.
A vida repontou: a vida menor.
(Extraído do livro "O amor natural", Editora Record – RJ, 1992, pág. 29.)
Sabe, ainda esta semana estava discutindo a dificuldade de se encontrar textos escritos por homens que descrevessem o "orgasmo" masculino. O verdadeiro, não o puramente fisiológico, ou animal, ou banal, destes que se lê em artigos cientificos, de literatura erótica e coisa e tal.
ResponderExcluirComeçava a achar que "nenhum homem" por mais poético que fosse, se encontava em situação de ser capaz de transcerder a si mesmo. Então, você publica um texto onde o Drummond descreve um orgasmo que começa na boca e termina na "vida menor". Neruda que me perdoe, mas poetas como Drummond são essencais...rsrs. Restituiu-me a esperança...rsrs
Adorei encontrar este texto aqui.
Beijos, M.I.E.M.A!!
Concordando com a minha alma aí em cima!
ResponderExcluirFalar de amor não é fácil, não como pensam.
Precisa-se de uma alma sensível, disposta a mergulhar e depois se expor!
Amar de corpos e mentes é algo que consome... mas é explosão de gozo em palavras cheias de significado pra quem lê e pra quem sente!
Beijocas, minha gafa!