domingo, 29 de agosto de 2010

Saindo do casulo...


... A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza.
Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu.
(...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema.
Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma...


Desígnios


"Alguém pode me dizer

se estava prevista na palma da minha mão

esta paixão inesperada, se estava já escrita

e demarcadana linha da minha vida?

Se fazia já parte da estrada,

e tinha que ser vivida,

ou foi um desgoverno repentino

que surpreendeu os deuses todos que desenham o nosso destino?

Ou foi um desatino, uma loucura

uma imprevisível subversão

que só a patir de agora eu trago marcada

na palma da minha mão."



Apenas Clarice...


- Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar.
Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente.
O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar.
Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja.
Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas,
ela doce arde, arde, flameja.
"Do livro: Onde estivestes de noite"
- Fico às vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só meu coração bate.
- Talvez a pergunta vazia fosse apenas para que um dia alguém não viesse a dizer que ela nem ao menos havia perguntado. Por falta de quem lhe respondesse ela mesma parecia se ter respondido: é assim porque é assim.